VÍDEO: Vencedora dos prêmios Camões e Machado de Assis, aos 88 anos escritora Adélia Prado encanta seguidores ao declamar poemas nas redes sociais

Publicações em vídeos somam mais de 4 milhões de visualizações desde a primeira feita em outubro de 2023. Escritora mineira tem mais de 20 obras e afirma que está ‘gostando dessa experiência’.

Adélia Prado declama poemas escritos por ela para seguidores em rede social

Vencedora dos prêmios Machado de Assis e Camões em menos de uma semana, a escritora mineira Adélia Prado também leva a sua poesia mundo afora através da rede sociais. As publicações em vídeo que começaram em outubro de 2023 já somam mais de 4 milhões de visualizações apenas no Instagram.

O mais recente hábito da poetisa de 88 anos começou há menos de um ano no Instagram, onde poemas publicados ao longo da carreira em mais de 20 livros são declamados com a mais genuína emoção. Assista no vídeo acima a leitura do poema Módulo de Verão, da obra Bagagem, de 1976.

Nas declamações feitas em espaços acolhedores da sua residência em Divinópolis, no Centro-Oeste de MG, Adélia Prado reforça a sua capacidade de tocar outro ser humano com as palavras em verdadeiros momentos de conexão com os mais de 88 mil seguidores.

O bom humor matinal da escritora, aliado à entrega de corpo e alma aos seus versos, faz com que cada vídeo se torne um convite irrecusável para mergulhar na poesia.

Em umas das primeiras leituras transmitida via rede social, em dezembro de 2023, Adélia aparece em um jardim onde, sentada em um banco e com um dos livros nas mãos, expressa a satisfação em iniciar a conexão global com quem aprecia a arte. Na publicação, ela declamou o poema “Exausto”, publicado no livro “Bagagem” em 1976. Veja no vídeo abaixo.

Adélia Prado lê a poesia ‘Exausto’

“Olá, pessoal. Estou aqui hoje, bastante alegre. Bastante é uma palavra ruim, muito alegre, porque eu toda vida amei falar de poesia. Ficaria o dia todo lendo poesia. Arrumei um canto aqui, na minha casa, um cantinho bom e um cantinho eletrônico que é o Instagram, é Instagram mesmo? E vou ler, aproveitar que deu uma brisazinha nesse calorão do Brasil. Tomara que vocês gostem, porque eu estou gostando dessa experiência…” disse sorrindo.

Na publicação com mais de 820 mil visualizações a escritora recebeu comentários de famosos com Antônio Fagundes, Patrícia Pillar, Glória Pires, Elisa Lucinda, Cissa Guimarães, Leila Pinheiro e Padre Fábio de Melo.

Adélia Prado — Foto: Reprodução/JN

Nas postagens, os fãs distribuem cumprimentos e elogios à escritora. “Linda demais… muito feliz em te ver por aqui nas redes”, disse um seguidor. “Precisa comentar? Encheu nossas almas sem esforço! Dom e graça”, destacou um fã.

“Que maravilha! Aqueceu meu coração!!! 🌷❤️”, disse Patrícia Pillar.

“Coisa boa da modernidade, poder ouvi-la logo pela manhã!💜”, escreveu Glória Pires.

Trecho do poema mais recente publicado em vídeo

No dia 8 de junho, Adélia Prado leu o poema Módulo de Verão, da obra Bagagem, de 1976. Leia um trecho:

As cigarras começaram de novo, brutas e brutas. Nem um pouco delicadas as cigarras são. Esguicham atarraxadas nos troncos o vidro moído de seus peitos, todo ele — chamado canto — cinzento-seco, garra de pelo e arame, um áspero metal. As cigarras têm cabeça de noiva, as asas como véu, translúcidas. As cigarras têm o que fazer, têm olhos perdoáveis. Quem não quis junto deles uma agulha? — Filhinho meu, vem comer, ó meu amor, vem dormir. Que noite tão clara e quente, ó vida tão breve e boa! A cigarra atrela as patas é no meu coração. O que ela fica gritando eu não entendo, sei que é pura esperança.

— declamou Adélia

A publicação, novamente, causou a reação de famosos.

“O casamento perfeito entre o sentido oculto de cada verso e a voz que rasga a carne da palavra. Oh, querida Adélia, tudo em você poetiza, dança, reza, interpreta. ❤️”, comentou o padre Fábio de Melo.

Quem é Adélia Prado

Adélia Prado nas redes sociais — Foto: JN

Adélia Prado, é sem dúvidas, uma das mais renomadas poetas brasileiras. Nascida em 13 de dezembro de 1935, em Divinópolis, foi professora durante 24 anos antes de se dedicar totalmente aos poemas.

Profundamente marcada pela espiritualidade, celebração de experiências simples e cotidianas, além do olhar sensível sobre a condição feminina, as obras de Adélia encantam pela linguagem rica e intimista, que fazem dela uma artista única na literatura brasileira.

Graduada em Filosofia, Adélia Prado começou a ganhar reconhecimento literário quando Carlos Drummond de Andrade, uma das maiores figuras da poesia nacional, leu seus escritos e os recomendou à editora Imago.

O primeiro livro, “Bagagem”, publicado em 1976, foi o anúncio do tom de todas as obras que viriam em seguida: um misto de profundidade e leveza, onde o sagrado e o profano convivem de maneira harmônica.

Os poemas falam da força da mulher, falam de amor, fé, maternidade, envelhecimento e das pequenas coisas da vida, como a pintura de uma casa, sempre em forma de cântico que encanta e ressoa no coração de quem os lê.

A importância de Adélia Prado vai além de contribuições literárias. A artista é figura central para a cultura no mundo, uma embaixadora da cultura mineira e brasileira, que celebra o interior do estado como forte fonte de inspiração em seus escritos.

Adélia foi a primeira mulher premiada na categoria Conjunto da Obra, pela contribuição à literatura brasileira, no concurso Literatura do Governo de Minas, em 2017.

Foi indicada para a Academia Brasileira de Letras. Em 2001, um grupo de atores e jornalistas do Rio de Janeiro formaram um movimento para lançar o nome dela para ser uma das imortais na vaga deixada por Jorge Amado. Mas na ocasião, a viúva do escritor baiano, Zélia Gattai, acabou sendo eleita.

É colecionadora de premiações grandiosas como o recente Prêmio Camões – e o Prêmio Machado de Assis 2024.

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Adélia Prado vence o Prêmio Camões

Clássicos de Adélia Prado

Em 1976, publicou “Bagagem”. Já em 1978 foi a vez de “O coração disparado”, agraciado com o Prêmio Jabuti. A estreia em prosa se deu no ano seguinte, com o livro “Solte os cachorros”. Em seguida, publicou “Cacos para um Vitral”.

Em 1981, lançou “Terra de Santa Cruz” e, em 1984, “Os componentes da banda”. Em 1991, foi publicada sua “Poesia reunida”.

Em 1994, após anos de silêncio poético, ressurgiu com o livro “O homem da mão seca”. Em 1999, foram lançados “Manuscritos de Felipa”, “Oráculos de maio” e sua “Prosa reunida”.

Novo livro

No fim de 2023, foi revelado que Adélia Prado vai lançar no segundo semestre de 2024 um novo livro, com o título provisório “Jardim das Oliveiras”. A mineira de Divinópolis afirmou que a obra dialoga com a dor e a angústia que viveu nos 10 anos em que passou sem escrever. A última publicação foi “Miserere”, lançada em 2013.

A inspiração para “Jardim das Oliveiras” veio de poemas encontrados em gavetas, escritos ainda na juventude.

“Fui resgatada pela própria poesia; encontrei, em gavetas, poemas escritos na tenra juventude e, para minha surpresa, eles estavam em sintonia com minha experiência atual e desencadearam a ideia desse livro”, disse a escritora no ano passado.